Rios de Encontro, o projeto eco-cultural e socioeducativo enraizado na comunidade Cabelo Seco desde 2008, dedicou as últimas duas semanas de novembro à ações nacionais e internacionais celebrando jovens arte educadores como força transformadora na busca criativa e inclusiva contínua de justiça social e ambiental diante um futuro incerto e preocupante.
“No Fórum Bem Viver realizado entre 15-18 de novembro em Moeda/MG, nosso Coletivo AfroRaiz fez a ponte entre o 1º fórum em Marabá em 2017, e o 2º fórum na região de Mariana/MG, onde aconteceu a maior crime ambiental na historia do Brasil”, explicou Manoela Souza, gestora cultural dos dois fóruns.”
“Mas além de realizar oficinas e apresentações afro-descendentes corajosas com centenas de crianças e adolescentes, e com arte educadores adultos de todo o país, AfroRaiz representou Marabá numa troca de projetos entre oito regiões do Brasil.”
“Nosso fórum foi marcado pelo compromisso com 25 jovens de dez polos, entre 60 convidados, e pela coragem de enraizar um encontro nacional numa comunidade vulnerável”, disse Dan Baron, coordenador do projeto Redes de Criatividade que culminou no fórum, realizado pela Rede Brasileira de Arteducadores (ABRA).
“Porém, depois das apresentações verbais tão maduras dos jovens no primeiro dia sobre cuidado ecológico, igualdade de gênero, identidade racial e saúde integral”, continua, “largamos nosso plano de residências juvenil e adulta paralelas. Criamos uma roda integrada para discutir acordos sensíveis capazes de equilibrar desejos pessoais e cuidado coletivo com a comunidade, na qual os jovens assumiram uma liderança inesperada.”
Rerivaldo Mendes, coordenador de audiovisual no projeto Redes de Criatividade avalia: “Com apenas 15 à 25 anos de idade, nós jovens de Santa Catarina, DF, São Paulo, Bahia, Pará, Maranhão e Minas Gerais criamos oficinas para encontrar o ‘quilombo interno’ e a memória indígena de raiz e de genocídio, em cada um.
Participamos em vivencias de canto coletivo e esculturas humanas para evocar e visualizar o futuro que ninguém vai esquecer, e as documentamos com celulares. Assim, começamos redefinir o celular como ferramenta de ação cultural e educacional.”
O fórum incluiu um pré fórum, cine bem viver, banquete bem viver de sabores de todo o país, uma festa cultural e um passeio ecológico sobre a história geológica da região mineira.
Mas os participantes vivenciarem também na madrugada do último dia o assassinato trágico de Daniel Galdino, filho da educadora comunitária Rosa, diretora do projeto Cabal na comunidade Água Limpa, que alfabetiza negros excluídos na boca da mineração. “Filmei a oficina de brincadeiras que o fórum levou à escolinha”, lembrou Rerivaldo. “Este assassinato simboliza para todos nós a violência da época atual de ódio, ameaça e genocídio dos jovens negro e afro-índigena no país.”
O fórum encerrou com um dia de reflexão para idealizar a Lei da Semana Paraense de Bem Viver, e o 3º Fórum Bem Viver 2019, na Bahia.
Entre 24-30 de novembro, Manoela Souza e Évany Valente do Rios de Encontro representarem o projeto finalista Gira-Sol, na cerimônia de premiação do Itaú-Unicef com foco na educação integral.
Paralelamente, Dan Baron alertou o Parlamento Europeu sobre a grave ameaça aos direitos humanos e liberdade intelectual no Brasil. Além disso, ministrou palestras na Rede Grega de Arte Educadores, no Centro de Estudos Latino-Americanos na Universidade de Cambridge, no Encontro do Conselho Britânico e Universidade de Goldsmiths, e na conferência ‘Vozes de América Latina’ e sua ‘Iniciativa Solidariedade com Brasil’, na Casa do Congresso em Londres. “Focalizei sempre sobre a maturidade e resiliência juvenil inesperadas no fórum. O mundo está olhando para Brasil com muito preocupação hoje.”